Cap 10: BOOM!
“Eu me arrisquei a toa..”
A mente dele estava em caos, Guaracy simplesmente se sentou no chão sujo, ele já tinha chorado e xingado tudo a sua volta, várias vezes nos últimos dias, mas agora a situação ficou clara demais, para ele ignorar, eu nunca mais vou vê-los.. e eu não tenho nem como me vingar.
Algumas horas depois “essa noite parece infinita… eu não preciso dormir.. ainda tenho muito o que planejar”
No dia seguinte Guaracy estava sentado na biblioteca da escola usando o wifi dos professores para pesquisar para o próximo passo.
“Se eu for pegando um por um eles simplesmente vão colocar outros no lugar.. haha... é igual ao mito da Hidra… cada cabeça que eu cortar, vai nascer duas no lugar, talvez a solução que Hércules usou também funcione no meu caso..”
Algum tempo depois “Eu não sabia que era tão fácil gerar um curto circuito usando o flash do celular.. haha.. só precisei de uma pergunta no google...”
horas depois “hum... mas nem precisa do celular… eles vendem controle remoto para ativação, dos fogos de artifício”
“Vou pesquisar mais sobre fogos de artifício e amanhã depois do trabalho eu compro alguns” pensava enquanto ia para a sala de aula.
No dia seguinte depois do trabalho Guaracy pegou um ônibus e foi até uma comunidade distante, para comprar fogos de artifício ilegais e alguns outros apetrechos.
Como os traficantes costumam usar bastante fogos de artifício para alertar uns aos outros da chegada da polícia, é bem fácil de comprá los por aqui.
“Não sabia que eles custavam tanto… primeiro vou testar o aparelho que os aciona por controle remoto e depois eu vou tentar aumentar o alcance dele”
Guaracy passou dois dias testando os fogos “Agora só vou precisar me fantasiar um pouco e ir a várias lojas diferentes.. a minha cicatriz é muito chamativa... ainda preciso escolher bem os alvos”.
“Haha.. o que o Paulo diria se me visse andando na rua maquiado.. o bom de ser pobre é que sou quase invisível.. matando ou morrendo eu sou só um número para eles”
Guaracy usou algumas dicas da internet para mudar a aparência, com o cabelo e a maquiagem cobrindo a cicatriz, ele passou os próximos quatro dias procurando os alvos adequados e comprando os fogos de artifício.
“Pena que aquele pedofilo tinha pouco dinheiro… mas a pena maior é que vai ser fácil achar mais deles”
“Os melhores alvos seriam os estoques de armas e drogas, mas eu posso colocar na lista os gerentes gerais que comandam o morro e talvez os salões de reunião deles”
“Eu poderia fazê los brigar entre si… “ pensava enquanto desmontava os fogos de artifícios em um terreno baldio.
“A parte de baixo tem pouca pólvora e a energia da explosão faz com que os explosivos lacrados na parte de cima saiam pela abertura, os da parte de cima como estão lacrados explodem..”
“Eu só preciso desmontá-los completamente e lacrar todo o conteúdo junto... depois é só preparar o ativador…”
“Eu até comprei o ativador da loja, mas se eu usar o celular o alcance é bem maior”
No dia seguinte Guaracy abordou um usuário de drogas que ele conhecia, Kauan era um do seres humanos mais desprezíveis que Guaracy conhecia, ele tinha sido expulso de uma facção por causa dos atos excessivos e pensar que matar crianças não é um ato excessivo para as facções.
Só não tinham matado ele por que de vez em quando eles precisavam de um maluco e ele fazia tudo por dinheiro, Guaracy de máscara saiu de um beco e encostou a arma nas costas de Kauan.
“Eu preciso que você faça um serviço simples”
“Ok, ok, cara não precisa dessa arma..”
“Cala a boca e escuta.. você vai pegar essa sacola e vai deixar ao lado da casa XXX, você vai ganhar cinquentinha nessa, mas se não entregar, você já sabe como o comando age… e é melhor não olhar o que tem dentro”
“Beleza cara.. é para entregar agora?” disse Kauan sorrindo.
“É sim, chega lá e deixa a sacola perto das outras na lixeira, toma a grana.. se você fizer direito no próximo eu pago mais…”
Guaracy voltou para o beco e subiu em um dos telhados, ele tinha escolhido um endereço que ele conseguiria ver bem pelo binóculo, aquela era só um sacola de lixo normal e Guaracy fez tudo isso para testar se Kauan faria o serviço.
Guaracy acompanhou o percurso todo pelo binóculo, ele pode ver bem quando Kauan deixou a sacola e foi direto na direção da boca comprar drogas, ”Beleza… só falta um teste agora”
De volta no terreno baldio Guaracy pegou uma bombinha e prendeu em um isqueiro com fita adesiva , “o legal desse kit é que funciona bem e no caso de alguém me perguntar eu posso dizer que eu estava vendendo na rua”.
“Não queima muito.. e o barulho é um problema, mas para o que eu vou fazer é perfeito”
O alvo que Guaracy escolheu foi o ‘Baixinho’, ele era o gerente geral do morro e o representante da facção que domina essa região.
“A Reunião deles normalmente dura até a uma da manhã.. o ideal seria fazer com que o kauan subisse com a sacola as 11 da noite, ninguém vai mexer no lixo a essa hora e se der algo errado eu consigo mudar o plano”
Guaracy achou Kauan algumas horas antes, mas só as 10 e meia ele o abordou, Guaracy estava de luvas, máscara e segurava um saco de lixo cheio de explosivos.
“Não precisa se virar, você já sabe o serviço... é só deixar a sacola na guia em frente do terreno baldio”
Kaua pegou a sacola “Essa sacola é mais pesada que a anterior..”
“Sim, por isso eu vou te pagar o dobro... o mandante do serviço é bem importante, então você já sabe o que acontece em casos de falhas..”
Guaracy voltou pelo beco e escalou o lugar perfeito para ver o percurso, a rua que os explosivos iam ficar é estreita e por isso não é a que o baixinho costuma usar, “agora só preciso cortar a energia das outras duas ruas que ele pode usar...”
Quedas na energia eram bem comuns na comunidade, as instalações elétricas eram feitas de qualquer jeito pelos moradores e infelizmente curto-circuitos e incêndios são bem comuns.
Depois de se certificar que Kauan tinha deixado a sacola, Guaracy foi até uma das ruas que ele precisava apagar, a meia noite ele subiu em um dos telhados e preparou o kit, acendeu e jogou em cima do transformador.
A explosão foi pequena e em seguida o querosene fez com que o transformador pegasse fogo, ”Perfeito… o estouro vai fazer com que eles pensem que foi um curto e com certeza vão demorar bem mais que uma hora para consertar”
“Se ele escolher descer pela rua escura eu simplesmente pego os explosivos e tento novamente outro dia..” Pensava enquanto andava até a outra rua.
Ele esperou vinte minutos até não ter mais ninguém olhando e queimou mais um transformador.
“Agora só ficar de olho, o bom é que eu nem preciso que ele morra, ele vai tentar achar quem o atacou.. daí eu só preciso atacar a gangue vizinha que o show começa.. se eu queimar um armazém eles vão ter que fazer alguma coisa, para não demonstrar fraqueza”
Há uma e meia da manhã Guaracy viu o grupo do baixinho saindo da central deles, “Vamos.. escolhe a rua certa…”
O baixinho estranhou as ruas estarem apagadas e mandou alguns soldados investigar as ruas, dez minutos depois eles voltaram e só então eles escolheram a rua iluminada.
“Beleza…” pensava enquanto se preparava para ligar para o celular que estava junto com os explosivos.
Ele tinha feito com que o flash da câmera gerasse um curto circuito e acendesse os explosivos, o celular estava no modo silencioso e configurado para ao receber uma ligação o flash se tivesse.
Ele já estava preparado quando viu o grupo a poucos passos do saco de lixo.
“Vamos ver como é a explosão de 10 kg de pólvora temperada com pedaços de metal” pensava enquanto fazia a ligação.
BOOM!
O barulho foi enorme e levantou uma coluna de fumaça que cobriu a viela, os que estavam mais longe da explosão foram lançados contra os muros e dos que estavam mais perto Guaracy só viu os pedaços, até o muro do terreno baldio balançou e caiu.
“Morram desgraçados… haha… todo o dinheiro que vocês fizeram explorando criancinhas não te protegeram dessa vez..”
“Hahaha… Até formou um pequeno cogumelo… ainda bem que eu escolhi uma área vazia”
Guaracy já estava de máscara antes de falar com o Kauan e mesmo estando a mais de dois quilômetros da explosão ele não tirou a máscara, Guaracy decidiu sair silenciosamente e só tirar a mascara e se trocar quando chegar em um beco vazio.
Depois disse ele foi correndo para casa e isso não pareceu suspeito, pois as outras pessoas também procuravam se esconder, temendo um tiroteio.
já deitado no colchão velho “Se ele não morreu, com certeza está bem ferido… deu para ver os pedaços de metal batendo nas paredes… agora eu só preciso preparar o ataque na gangue vizinha”
“Se eu arranjar mais dinheiro eu vou poder grudar câmeras espiãs pela comunidade... eu posso usar drones com explosivos para destruir armazéns… haha... posso fazê los subir até ficarem invisíveis a noite e então despencar na cabeça deles… imagina assistir os milhões de reais em drogas pegar fogo….” pensava Guaracy logo antes de ter uma das melhores noites de sono da vida.
No dia seguinte Guaracy visitou a casa do Paulo, para saber se eles tinham recebido alguma informação nova e para participar da reabertura do dojo, que estava fechado desde o desaparecimento de Paulo.
O clima no dojo estava bem pesado, mas a família de Paulo dependia dessa renda, Guaracy passou a maior parte da manhã e da tarde com eles, antes de ir para a escola.
“Eu até saí no jornal… eles estão loucos atrás de quem fez isso, mas o Kauan nunca viu o meu rosto e ele anda tão drogado que é capaz de nem se lembrar que pôs a sacola.. hum… começou chover”
“Merda de ponto de ônibus que não tem cobertura… eu vou ter que ficar nesse cantinho debaixo da laje…”
Guaracy viu a outra versão de si mesmo desaparecer e as memórias pararam por ali, “Não acredito…”
Comentários
Postar um comentário