Cap 11: Traz mais um copo
Ele abriu os olhos e estava de volta na floresta, a primeira coisa que viu era a máscara de madeira da líder Ni wodàyn.
“Foi.. simplesmente isso? eu simplesmente desapareci?”
Ela se levantou e disse ”Sim.. as fronteiras do nosso mundo são muito finas”
“Como assim finas?”
Ni wodàyn “Chega… vamos deixar essa conversa para outro dia ” Ela olhou para Guaracy e disse “ você ainda pode achar os seus amigos…”
Só agora Guaracy percebeu ”Nós temos que achá los… eles podem estar perdidos na floresta”
Ni wodàyn “ As noites na floresta são bem mais perigosas do que no seu mundo… “ Antes que Guaracy se desesperasse ela disse “mas eles podem ter aparecido perto de outra aldeia ou em qualquer outra parte do nosso mundo”
Ni ivití disse “Lembra o que Ñyata tinha dito? você iria aparecer em algum lugar desconhecido, mas ela decidiu te trazer para cá”
O velhinho da capivara disse “você vai ter que procurá los.. mas antes Ni wodàyn´vai nos dizer se você vai ser aceito”
Ni wodàyn´ olhou para os outros e disse “Essa pobre criança nasceu em um lugar horrível… vocês conseguem imaginar um lugar sem florestas? um lugar onde o ar e os rios são sujos? eles dormem em cavernas…”
O horror e a pena eram bem visíveis no rosto dos outros Ni.
“Eu não quero estragar a nossa noite descrevendo aquele lugar… Guaracy é um garoto leal, esquisito e um pouco timido, mas nos últimos dias ele encontrou a coragem dentro de si”
“Tímido?”
Ni wodàyn´ ”Para Guaracy fazer parte da nossa tribo, para ele ser um dos Ywaktšahi ele vai ter que aprender a ser um Ywaktšahi… ” Ela olhou para o velhinho da capivara ” Ni Douchi a partir de amanhã ele vai frequentar as aulas“
“Sem problemas”
Ni wodàyn´ olhou para Ni ivití e disse “E ele poderia morar com a sua família ”
Ni ivití “Nós vamos cuidar dele”
Ni wodàyn´ ”Vamos terminar por aqui, os outros já devem estar impacientes lá em baixo”
Ni ivití olhou para Cicí e disse “leva o Guaracy, para guardar os equipamentos e tomar um banho”.
“Vamos Guaracy”
Eles desceram correndo e quando chegaram no pátio, eles viram uma enorme multidão, eles estavam conversando, brincando e preparando alimentos em volta da fogueira.
“É algum dia comemorativo?”
“Não.. vocês não se juntam todas as noites para jantar, na sua tribo?”
“Haha.. não.. lá é meio que cada um por si”
“Deve ser bem chato.. os Ni vão começar o jantar daqui a pouco, então nós temos que correr”
“Nós já não estávamos correndo?”
Por sorte a Oca que Cicí morava era perto da grande ihya, A construção circulava a árvore e era bem grande por dentro, ela tinha diversas estantes encostadas nas paredes com tecidos, itens estranhos e armamentos, o centro da oca tinham alguns galhos que pareciam colunas, mas em geral livre.
“Cadê os quartos? hum?…. Por que você….”
Cicí estava tirando os equipamentos e peles quando olhou para ele e disse “Pode usar uma das estantes livres para guardar as suas roupas, amanhã você lava elas no rio”
“Para de olhar Guaracy… Hum…” pensava antes de dizer “Eu preciso mesmo andar pelado?”
Ela o olhou séria e disse“ As roupas são para combate... é extremamente ofensivo visitar a casa dos outros ou atender ao jantar desse jeito..”
“Entendi…”
“Não pensa besteira… eu tenho que achar alguma coisa para me focar… 2 x 2=4 x 2 =8 x 2=16 x 2 = 32...” pensava enquanto tirava as roupas, mas mantinha o colar, pois sem ele Guaracy não conseguiria se comunicar.
“Hum… acho que seria uma boa tomar um banho antes do jantar” disse ela.
“Banho… é…”
”512 x 2 =1024 x 2…” pensava enquanto a seguia para fora da oca por outra porta.
Todas as estruturas pareciam estar vazias,” todos já devem estar no jantar.. nós vamos para o rio ou algo assim?”
“Não... tem um banheiro aqui logo ao lado”
“Que?”
Logo que eles saíram da oca, Guaracy notou uma construção à parte, quando eles entraram ele notou algumas cabines distribuídas em dois corredores e quando ela abriu uma das portas, Guaracy viu um banheiro quase moderno com privada, gabinetes e um chuveiro, mas tudo era feito de madeira.
“Usa esse aqui e depois agente se encontra do lado de fora”
“Alguém do meu mundo já tinha vindo para cá... ainda bem.. inventar a privada ia ser muito cansativo...”
“O papel higiênico deles é bem melhor do que o da casa da tia.. o problema é que a água do chuveiro é gelada…”
Dez minutos depois eles se encontraram do lado de fora e começaram a correr para grande ihya.
“Correr pelado é bem desconfortável… ela não tem as curvas da mãe dela, mas…. para de olhar para ela…. 2048 x 2 =4096 x 2 ….” ele pensava antes de dizer “Quem inventou as coisas do banheiro? ele deve ter vindo do meu mundo”
“Não sei.. isso já existia antes de eu nascer..”
“Talvez um dos Ni saiba…”
Quando eles chegaram na praça central o jantar estava bem animado, a música dos tambores e outros instrumentos estava bem alta, alguns estavam jantando, conversando ou dançando em volta da fogueira.
O pátio era iluminado pelas fogueiras e alguns cristais decorando a vegetação, os animais estavam comendo ou se divertindo no meio das danças, alguns dançarinos usavam a transformação para melhorar a performance e dançar e brincar pulando de galho em galho.
“Para de ficar admirando… eu estou morrendo de fome” dizia Cicí enquanto o arrastava pela multidão.
Eles correram entre as pessoas até chegar em uma das mesas, um grupo grande de jovens estava conversando e brincando em volta da mesa, alguns deles faziam parte do grupo que o trouxe para tribo.
A mesa era bem grande, mas ficava só a meio metro do chão para que os animais pudesse pegar as comidas sozinhos, os pratos ficavam bem espaçados para que os macaquinhos e outros animais menores pudessem andar entre eles.
“Ai pessoal.. libera espaço para 2…”
“Quem é esse?” disse um deles, enquanto o grupo abria espaço para eles se sentarem.
“É o cara que nos achamos hoje mais cedo, ele se chama Guaraxi, eu acho” disse um deles.
“É Guaracy...” disse enquanto olhava os outros do grupo, do lado dele estava uma garota com cabelo azul com um gato do mato no colo, a maioria dos angs eram passaros, mas tinha alguns felinos e primatas.
“Ele é um visitante?” disse um cara alto, com um camaleão no ombro.
“Ele… foi…. gulp.. aceito na tribo hoje” disse Cicí, já colocando outro pedaço de fruta na boca.
“Bem vindo!..” disseram eles.
“Vlw mesmo!...“
“Oi! o meu nome é A'ne'” disse a garota de cabelo azul.
Guaracy estendeu a mão e disse “iai beleza?“.
Vendo a expressão que ela fez, Guaracy moveu a mão na direção do gato e disse “Gatinho bonitinho..”, mas ele não demorou para se arrepender mais ainda de ter movido a mão, o ‘gatinho’ fez um barulho e abriu a boca, os dentes dele enormes.
Guaracy só tinha visto o gato por trás, de frente ele parecia um mini dente de sabre, Guaracy realmente não esperava por isso e muito menos quando o gatinho começou a lamber a mão dele.
“Ele gostou de você…” disse A’ne.
“De onde você veio?…” perguntou um deles.
“Eu vim de outro mundo...”
“Que?...” O grupo todo parou para olhar para ele.
Guaracy ia explicar melhor, quando ele sentiu um peso no ombro, era um macaquinho.
”Os Ni estão te chamando” disse ele.
Guaracy não se espantava mais com animais falando, ele achava estranho os que não falavam, o macaquinho parecia um mico leão dourado, a pelagem dele era alaranjada com um tom mais para o vermelho, mas a expressão dele era bem humana e com a voz bem aguda, Guaracy olhou para a comida e disse “... agora?”.
“Sim.. Vamos….”
Ele não teve tempo nem de tomar um gole d'água, mas como podia ser algo importante, ele se levantou e tentou acompanhar o macaquinho “Para de correr assim!... cadê ele?... ali...”
O macaquinho correu entre as pessoas, Guaracy pode ver as famílias comendo e brincando, crianças correndo com os amigos e animais, ele passou por um grupo de velhinhos dançando, outros estavam jogando um jogo estranho, parecido com futevôlei, mas o objetivo principal era fazer a manobra mais espetacular antes de devolver a bola.
Na hora que Guaracy passou pelo grupo, um senhor de meia idade tinha dado um mortal duplo de costas antes de chutar a bola, eles correram por mais alguns minutos e passaram por jovens treinando combate e diversos grupos de animais brincando e descansando.
Guaracy o acompanhou até a frente da grande oca “Para que você ficou dando voltas? era só andar em linha reta…” o macaquinho parecia dar risada enquanto corria para outro lado.
Vários Ni estavam sentados na maior mesa que ele tinha visto, ela não era mais luxuosa que as outras e os ocupantes também não estavam agindo diferente, eles estavam conversando, bebendo e se divertindo, Ni Wodàyn estava sem máscara e com um copo na mão conversando com os outros.
“Você deve estar estranhando bastante tudo isso” disse ela.
A voz dela está normal, ela parece diferente sem a máscara e mais bonita…. 4096 x 2= 81… Pensava antes de dizer “Sim… o mais fantástico foi não ter visto nenhum sinal de miséria”.
“Aqui não é um paraíso, cada dia aparece um desafio diferente, mas você pode ter certeza de que nunca vai ver um dos seus companheiros, tratarem nenhuma forma de vida com crueldade e desprezo... nós acreditamos que cada pequena forma de vida merece respeito, mas nós vamos ter bastante tempo para falar sobre isso” Ela se levantou e disse “Venha.. eu vou te apresentar para a tribo”
Ela o levou até a entrada da oca e subiu alguns dos degraus, logo em seguida a máscara apareceu na mão dela.
Ela realmente parece outra pessoa com a máscara, não é só a voz que mudou…Wow, o degrau que eles estavam começou a se elevar, e ela começou a chamar a atenção de todos, os galhos e folhas acompanhavam cada palavra dela, o som não era alto, mas era como se a voz dela viesse de cada parte da floresta que os cercava.
“Esta é uma noite incomum, uma noite para se celebrar! todos nós passamos os últimos dias preocupados com o destino dos nossos irmãos.. “ a população escutava em silêncio “mas Ñyata nos surpreendeu novamente, além de tê-los resgatado, ela também nos presenteou com mais um membro….”
A reação foi instantânea, o tradutor não consegui traduzir as palavras, mas pelo barulho eles estavam comemorando.
“AaaHuuuu”
Ela fez um sinal com a mão para eles se acalmarem e continuou dizendo “ hoje eu vos lhe apresento o mais novo membro de nossa família” dizia enquanto apontava para Guaracy.
“AaaHuuuu”
“Mostrem para Guaracy como é fazer parte da nossa família...”
A multidão puxou Guaracy e a música voltou a tocar, ele não conseguiu explicar que não gostava de dançar, na verdade ele nunca tinha dançado na vida.
Mas os passos eram bem simples, os som dos tambores era intoxicante e todos estavam mais preocupados em se divertir, Guaracy também ficou bem mais solto depois de experimentar a bebida local.
Aos poucos ele foi levado de mesa em mesa, apresentado a cada família, em cada mesa eles ofereciam comidas e bebidas e faziam ele participar dos jogos e brincadeiras.
“ei? isso aqui.. é carne do que?
“Agami, traz mais um copo para ele…”
Eles dançaram em volta do fogo por horas, Guaracy nunca tinha imaginado que iria terminar esse dia dançando e bebendo com pessoas e seres estranhos.
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